Surto nos EUA trouxe preocupação ao Brasil, mas para especialistas não há motivo para pânico.
A campanha de vacinação deste ano contra a gripe deve começar na segunda quinzena deste mês, segundo o Ministério da Saúde. A pasta deve anunciar nos próximos dias a data, o público-alvo e o número de doses a serem distribuídas no período.
Atualmente, não é possível conseguir a vacina na rede pública, apenas na particular, por preços entre R$ 90 e R$ 160. A dose dada pelo SUS é a trivalente, que protege contra três vírus da influenza: A (H1N1), A (H3N2) e um tipo da B (leia perguntas e respostas).
Um surto de gripe que está ocorrendo nos Estados Unidos, principalmente por causa do H3N2, trouxe preocupação a brasileiros, com mensagens de alerta circulando em redes sociais. Desde outubro, 48 mil casos foram registrados e 142 crianças morreram nos EUA, segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças norte-americano.
Especialistas, no entanto, afirmam que até agora não há razão para desespero por aqui. “Ainda é cedo para saber [se haverá um surto no Brasil]”, diz o pediatra e infectologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações.
“O vírus da gripe tem essa peculiaridade de mudar um pouco todo ano. Em 2016 tivemos uma variação muito importante, em 2017 ela foi tímida e neste ano ainda estão começando os primeiros casos, não dá para dizer.”
Para Carlos Kiffer, professor de infectologia da Unifesp, “não há motivo para pânico, mas para proteção”. Segundo ele, “é bastante possível que o vírus H3N2 cause mais casos aqui, porque os surtos do hemisfério norte costumam preceder os do hemisfério sul. Temos que observar e nos preparar”.
Os dados, por enquanto, não indicam uma quantidade anormal de registros de gripe. Neste ano, até 31 de março, ocorreram 228 casos graves —chamados de Síndrome Respiratória Aguda Grave, de notificação obrigatória no Brasil— e 28 óbitos pela doença.
Os números são inferiores aos do mesmo período do ano passado, quando foram confirmados 276 casos e 48 mortes por influenza no país.
A quantidade de casos causados pelo H3N2 também é menor neste ano até agora. Foram 57, ante 158 em 2017.
Em São Paulo, o governo estadual diz que a doença está sob controle. “Não há qualquer anormalidade epidemiológica em relação à gripe na região”, ressalta a secretaria da Saúde. De acordo com os dados nacionais, 46% dos casos deste ano ocorreram no Sudeste, e o estado com mais registros de gripe é SP (64).
Segundo Helena Sato, diretora de imunização da secretaria, a campanha no estado acontecerá de 23 de abril a 1º de junho —o que não foi confirmado pelo Ministério da Saúde, responsável pelo envio das doses— e terá como meta atingir 11 milhões de pessoas (90% dos grupos de risco).
Sato afirma que o principal objetivo da campanha não é evitar que as pessoas peguem a gripe, mas reduzir as complicações que ela causa. “A vacinação é para evitar pneumonias e a morte de pacientes”, diz.
O governo federal informou, em nota, que a imunização será feita antes do período de sazonalidade da doença, que acontece no inverno, especialmente em junho. “A população ficará prevenida em tempo, evitando casos graves e mortes.”
Assim como nos outros anos, a imunização estará disponível primeiro para grupos de risco. A pasta ainda não divulgou quais serão eles, mas normalmente a lista inclui: crianças de seis meses a cinco anos, idosos, grávidas e mulheres que deram à luz há até 45 dias.
Entram também pacientes com doenças crônicas ou condições clínicas especiais (diabéticos, obesos etc.), profissionais de saúde, presidiários, funcionários do sistema prisional e indígenas.
Especialistas recomendam, no entanto, que todos que puderem tomem a vacina. A imunização deve ser feita todo ano, porque as cepas sofrem alterações.
A dose é contraindicada a bebês menores de seis meses e a quem já teve reações anafiláticas em aplicações anteriores. Quem teve a síndrome de Guillain-Barré ou tem reações alérgicas graves a ovo —a vacina é feita com proteínas do alimento— também deve ter cautela.
Fonte: Folha de São Paulo