Queda na cobertura vacinal se deveu principalmente ao desleixo dos pais.
É preocupante a notícia de que a cobertura vacinal no Brasil está caindo. Em 2017, o Ministério da Saúde esperava imunizar 95% das crianças com menos de um ano, mas só conseguiu índices que variam entre 71% (tetra viral) e 91% (BCG).
A boa nova é que, pelo menos por enquanto, não há indícios de que a diminuição da procura pelas imunizações tenha motivação religiosa ou ideológica, como ocorre em partes da África e também em países ricos como os EUA e o Reino Unido.
Embora um ou outro imunizante tenha sido objeto de boatos infundados sobre sua segurança, a queda na cobertura aqui se deveu principalmente ao desleixo dos pais. A melhor evidência disso é que uma vacina ministrada em dose única na maternidade, como a BCG, ficou bem perto da meta, enquanto as que exigem repetidos reforços são as que mais se afastam dela. É mais fácil combater preguiça do que ideologia.
Eu relutaria, porém, em adotar as medidas mais vigorosas que o Estado está autorizado a utilizar contra os pais que não mantêm em dia a caderneta de vacinação dos filhos. O arsenal inclui até ações penais. O sistema de saúde precisa ser visto como um aliado confiável da família, não como um oponente que impõe suas vontades recorrendo à força. Fazê-lo só criaria espaço para as visões paranoicas sobre o papel do Estado, que são o principal alimento dos movimentos antivacinais mundo afora.
Aqui, não basta vencer; é preciso convencer. E argumentos não faltam. Vacinas, não custa lembrar, são, ao lado do saneamento básico, a maior conquista da civilização no campo da saúde pública. Foram essas duas medidas as principais responsáveis por reduzir a mortalidade infantil da casa das várias centenas por mil nascidos vivos no início do século 20 para cerca de 30 hoje (média mundial). Essa brutal redução nos óbitos infantis é que explica a maior parte do salto da expectativa de vida global, que foi de 31 anos em 1900 para 72 anos hoje.
Fonte: Hélio Schwartsman – Folhapress